Sou muito curiosa, sempre fui
desde criança. Mas hoje sou mais. Seria interessante
se de nossas cabeças saísse balões com o que estamos pensando, assim poderíamos
saber o que se passa na cabeça de todos, inclusive na minha (risos), que
confusão seria.
Não saber, para mim, é uma
situação ás vezes torturantes. Você que lê deve pensar, fofoqueira, mas não é
isso. O saber é algo que vicia, incomoda.
Hoje, 02 de outubro, no 8108
deixei uma senhora entrar na minha frente, nem imaginava o que estaria por vir.
Querem saber? A mesma senhora passou na roleta e de BOA TARDE aos demais
passageiros. Sempre quando escuto isso já
penso que é alguém vendendo alguma coisa e dessa vez não foi diferente. A senhora
começou a falar sobre algumas palestras nas linhas 2104, 2103, 2004 e 8108
sobre Aids. É incrível como só de pronunciar o nome da doença fez com que o semblante
dos ouvintes mudou.
A senhoria, de aparência sofrida,
disse que tinha a doença a doze nos e que foi infectada pelo marido. Ela também
estava pedindo ajuda, contribuição para que pudesse comprar um protetor da
marca minesol. Realmente esse produto custa em torno de R$80 reais, quem é
branquelo ou manchado como eu sabe bem o preço. Pois bem, continuando, a
senhora continuou a falar e a pedir ajuda.
Algumas pessoas se
sensibilizaram e deram dinheiro. Eu só ouvi porque não tinha nem um real para
contribuir. Pensei, então, em ajuda-la com a passagem. Perguntei a cobradora se
poderia passar o cartão BH bus e ela devolveria o dinheiro pago pela senhora. Adivinhem
a resposta? NÃO é claro. Nem argumentei tamanha a impotência e impacto da
negativa. Me senti envergonhada por não
ter outra forma de ajudar aquela senhora com o rosto marcado pelo tempo e pela
doença. Também nem sei se a ilustríssima agente de bordo poderia aceitar meu
pedido.
Outras pessoas, felizmente,
a ajudara. Uma das passageiras disse que tinha na família alguém soro positivo
e se emocionou ao abraçar a senhora que pedia. Seria ótimo saber o que se
passou na cabeça das duas, o balãozinho seria muito bem usado nesse momento.
Ontem brinquei cantando uma
canção que dizia: “a pobreza bateu em minha porta e eu abri”, mas depois do que
vi e ouvi hoje me deu até vergonha pelo que cantei. A pobreza não bateu em
minha porta, posso não ter muito dinheiro, mas tenho saúde, força e
oportunidade de trabalho, coisas que aquela senhora mostrou que por causa da
enfermidade a que foi acometida, não tem.
A gente sempre escuta que existem problemas
maiores que os nossos. Realmente existe mais é hipocrisia dizer que se entende
a situação do outro. Se entende por que não ajudou? Por que ficar só olhando ou
nem se quer olhar? É muito fácil dizer que entende quando não foi você quem
recebeu a sentença de morte mais lenta que já existiu. E agora você gostaria
dos balõezinhos de ideias? Sim, não, talvez. Vai saber né.
Obrigada mais uma vez a você
que parou para ler meu texto. Como diria Renato Russo, FORÇA SEMPRE.